Ministério Público quer garantir o caráter “ecumênico” dos templos construídos pela Igreja Universal em presídios do Rio

Ministério Público do Rio vai apurar se a construção de templos pela Igreja Universal em presídios do Rio é legal e favorece também a outras religiões. Líderes de outras religiões questionam a  validade do acordo e dizem que é uma "violação do Estado laico"
 
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Como noticiamos no dia 22 de março, a Igreja Universal do Reino de Deus conseguiu autorização da Prefeitura do Rio de Janeiro para construir 43 templos em presídios do Estado. Procurada, aPrefeitura esclareceu que nenhuma verba pública será utilizada nas construções, e que os templos poderão ser utilizados por outras religiões, pois seriam espaços “ecumênicos”, embora financiados pela Igreja Universal.
Todavia, tam bém prevemos que a iniciativa, apesar de positiva no âmbito social, poderia gerar críticas de alguns setores, devido o caráter religioso vinculado ao poder público. Previsto e acontecido! Segundo uma matéria publicada pelo jornal O Globo, a Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva do Sistema Prisional e Direitos Humanos do Rio de Janeiro, abriu uma investigação para apurar a legalidade do acordo entre a Universal e a Prefeitura.
Ao que parece, o principal questionamento é como a parceria foi estabelecida. Isto é; se contou ou não com o conhecimento de outros segmentos religiosos. Por outro lado, é possível imaginar que a iniciativa da Universal tenha despertado o interesse de outros segmentos somente após o acordo, visto que as queixas deram início com a inauguração dos dois primeiros templos, um na Cadeia Pública Joaquim Ferreira e outro no Instituto Penal Plácido de Sá Carvalho, ambos no Complexo de Gericinó, em Bangu.
“Não sabemos como foi feito esse acordo e o que ele inclui. Não participamos disso. Para mim, a maior dificuldade é como organizar o espaço desses lugares para o atendimento de todas as religiões. São quase oitenta entidades inscritas para levar a Palavra de Deus aos presos e se não for algo organizado de forma bem feita, cria um problema”, disse o Cônego Manuel Manangão, da Arquidiocese do Rio.

Para o Babalorixá Ivanir dos Santos, a autorização é uma decisão que privilegia a Igreja Universal:
“Isso é uma violação do Estado laico. Você não pode construir um templo religioso dentro de um complexo de prédios públicos. Além disso, como é possível te um templo ecumênico sem conversar com outras religiões? Havia representantes de outras religiões? Isso não foi conversado. Não sou contra a assistência aos presos. Mas não pode haver privilégios dentro de um espaço público como é o caso.”, disse ele.
De acordo com a Secretaria de Administração Pública (Seap), o objetivo da construção dos templos é para facilitar a ressocialização dos presos e a responsabilidade pela utilização dos mesmos fica a critério dos diretores dos presídios, podendo ser concedida a outras religiões. Contudo, é inegável que a Universal deve realizar trabalhos frequentes, visto que a concepção do projeto partiu dela, o que pode caracterizar maior uso dos espaços.